Título: S´embora, gente, vamos de samba!
Autora: Aline Natureza
 
Imagem da capa: Joaquim Corrêa
 
ISBN: 978-65-87529-66- 0
Número de páginas: 120
Tamanho: 13x18cm
 
"O samba é um gênero musical, é um ritmo e é uma coreografia; acho que não há dúvidas quanto a isso. Mas eu diria que é pouco. Gosto de definir o samba como um sistema de organização do mundo. Em torno do samba, circulam maneiras como as pessoas cantam, brincam, rezam, comem, bebem, choram, gargalham, celebram os vivos e os mortos.
 
Como cultura brasileira de fundamento centro-africano, o samba reinventa e fortalece identidades, cria redes de proteção social, fortalece sociabilidades e se estabelece como contraponto ao tempo secular do relógio, já que se conecta com o tempo sagrado e ancestral da roda.
 
Esses princípios que destaquei acima perpassam todas as páginas de S´embora, gente, vamos de samba!, livro em que Aline Natureza encruzilha a trajetória da sambista Jandira Souza com diversas questões: o samba da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, as influências de folguedos da cultura popular de Santa Catarina na formação do samba de Florianópolis, o espaço da roda de samba como inventor de sociabilidades coletivas, o papel da mulher na cultura do samba, as relações cruzadas que profanam o sagrado e sacralizam o profano na cultura brasileira, o desafiador protagonismo feminino em uma cultura machista, o preconceito contra as sambistas versadoras de partido alto (que desconfio ser o gênero de samba mais centrado na figura masculina) etc.
 
Para mim, um carioca criado na cidade que reivindica a condição de berço do samba urbano brasileiro, aquele criado nas ruas e biroscas do bairro do Estácio de Sá a partir de um contraponto ao samba de roda baiano, ler o trabalho da Aline foi um prazer (a danada escreve bem pacas) e uma revelação.
 
Mergulhar na trajetória de Jandira, saber das especificidades do samba da Grande Florianópolis, discutir as dinâmicas complexas do enraizado preconceito que relega a mulher sambista a um papel coadjuvante, fortaleceu minha convicção de que o samba tem uma enzima africana que se catalisou no Brasil de modos diversos, em virtude de especificidades regionais típicas de um país continental e plural como o nosso.
 
Saí da leitura com vontade de ir a Florianópolis, conhecer as rodas de samba da ilha, tomar umas cervejas geladas, prosear com a Aline e ver Jandira Souza versar. Só não vou me arriscar a cair dentro do partido. Eu não daria, num desafio com a Jandira, nem pro início.
Boa leitura e bons sambas!"
 
Luiz Antonio Simas